Os líderes mundiais precisam ter a escassez de água
como uma prioridade maior que as mudanças climáticas, porque o problema é muito
mais urgente que o aquecimento global. O alerta é do presidente do conselho de
administração (chairman) de uma das maiores companhias de alimentos do mundo.
"Hoje, não se pode ter em nenhum lugar uma
discussão política sem se falar nas mudanças climáticas", diz Peter
Brabeck. "Neste sentido, ninguém menciona a situação da água. E a água é
um problema muito mais urgente. Não estou dizendo que as mudanças climáticas
não sejam importantes. Estou dizendo é que as mudanças climáticas à parte,
estamos ficando sem água e isso precisa ser a maior prioridade."
Os comentários de Brabeck são feitos no momento em
que as empresas estão tendo que se adaptar aos custos crescentes da água em
todas as partes do mundo, e aumentam as rivalidades por causa de mananciais mal
administrados de um recurso há muito dado como certo.
Uma pesquisa do "Financial Times" e dados
da Global Water Intelligence, uma companhia que faz análises de mercado,
mostram que nos últimos três anos as empresas investiram US$ 84 bilhões em
melhoria, conservação, gerenciamento ou obtenção de água. A Nestlé separou 38
milhões de francos suíços (US$ 42,5 milhões) para novos equipamentos de
economia e tratamento de água em suas fábricas.
Outras companhias, que vão da Ford ao Google,
investiram em medidas para reduzir o uso de água doce, um problema que segundo
já alertou o chefe do centro de dados do Google Joe Kava, é "o maior
elefante na sala" para as companhias de dados, que usam milhares de galões
de água por dia para resfriar seus centros de dados.
Coca-Cola e sua engarrafadoras vêm gastando quase
US$ 2 bilhões em medidas para conservar água desde 2003, segundo o chefe global
para administração de água, Greg Koch. Este valor inclui mais de US$ 1 bilhão
em tratamento de água descartada.
Andrew Metcalf, um analista de investimentos, diz: "A
escassez de água finalmente começa a ter um impacto financeiro". Ela já
tem "implicações negativas para o crédito" para a indústria
mineradora, disse ele em um relatório divulgado no ano passado para a Moody's,
a agência de avaliação de risco de crédito.
Segundo Brabeck, é errado culpar o aquecimento
global pela escassez. "Temos uma crise de água porque tomamos decisões
erradas no gerenciamento da água".
As políticas para a água também são voláteis. Os
grupos preservacionistas vêm criticando Brabeck e a Nestlé por causa dos
negócios da companhia com água engarrafada e o que os ativistas veem como um
esforço para privatizar o acesso à água potável, um direito básico da
humanidade.
Outras companhias como montadores, geradoras de
energia e mineradoras vêm enfrentando protestos, especialmente em áreas onde os
maiores usuários de água do mundo - os agricultores - se deparam com
suprimentos menores.
Fonte: Valor Econômico S.A - 16 de Julho de 2014. Artigo disponível na íntegra em http://www.valor.com.br/empresas/3615026/falta-de-agua-e-mais-grave-do-que-mudancas-no-clima#ixzz37eV072cq

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