A depender do alerta emitido nesta quinta-feira pelo Boletim de
Cientistas Atômicos (BAS, na sigla em inglês) ao adiantar em dois minutos o
“Relógio do Apocalipse”, que agora marca três para meia-noite, vivemos uma
situação tão perigosa quanto a da Guerra Fria e a humanidade corre sério risco
de sobrevivência.
A última vez em que a situação esteve tão crítica foi em 1984, num
momento em que o recrudescimento das hostilidades entre os EUA e a então União
Soviética ameaçavam a humanidade com uma guerra nuclear. Desta vez, a principal
ameaça vem do clima.
— Isto é sobre o fim da civilização como nós a conhecemos — disse
Kennette Benedict, diretora-executiva do BAS. — A probabilidade de uma
catástrofe global é muito alta, e as ações necessárias para reduzir os riscos
são urgentes. As condições são tão ameaçadoras que estamos adiantando o relógio
em dois minutos. Agora faltam três para a meia-noite.
A emissão de dióxido de carbono e outros gases está transformando o
clima do planeta de forma perigosa, alertou Kennette, o que deixa milhões de
pessoas vulneráveis ao aumento do nível do mar e a tragédias climáticas. Em
comunicado, o BAS faz duras críticas aos líderes globais, que “falharam em agir
na velocidade ou escala requerida para proteger os cidadãos de uma potencial
catástrofe”.
Além da questão climática, o BAS alerta sobre a modernização dos
arsenais nucleares, principalmente nos EUA e na Rússia, quando o movimento
ideal seria o de redução no número de ogivas. Estimativas mostram a existência
de 16.300 armas atômicas no mundo, sendo que apenas cem seriam suficientes para
causar danos de longo prazo na atmosfera do planeta.
“O processo de desarmamento chegou a um impasse, com os EUA e a Rússia
aplicando programas de modernização das ogivas — minando os tratados de armas
nucleares — e outros detentores se unindo nesta loucura cara e perigosa”,
informou o BAS.
A organização pede que lideranças globais assumam o compromisso de
limitar o aquecimento global a dois graus Celsius acima dos níveis
pré-industriais e de reduzir os gastos com armamentos nucleares.
— Não estamos dizendo que é muito tarde, mas a janela para ações está se
fechando rapidamente — alertou Kennette. — O mundo precisa acordar da atual
letargia. acreditamos que adiantar o relógio pode inspirar mudanças que ajudem
nesse processo.
O BAS foi fundado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago
(EUA) que participaram no desenvolvimento da primeira arma atômica, dentro do
Projeto Manhattan. Dois anos depois, eles decidiram criar a iniciativa do
relógio, para “prever” quão perto a humanidade estaria da aniquilação. Na
época, a principal preocupação era com o holocausto nuclear, mas, a partir de
2007, a questão climática passou a ser considerada pelo grupo. As decisões de
ajustar ou não o relógio são tomadas com base em consultas a especialistas,
incluindo 18 vencedores do Prêmio Nobel.
Desde a criação, o “Relógio do Apocalipse” foi ajustado 22 vezes. O momento
mais crítico aconteceu em 1953, com o horário marcando 23h58m,por causa dos
testes soviéticos e americanos com a bomba de hidrogênio. A assinatura do
Tratado de Redução de Armas Estratégicas, em 1991, fez o relógio marcar 17
minutos para a meia-noite, a situação mais confortável até hoje.
O último ajuste do relógio aconteceu em 2012, para 23h55m, com o BAS
alertando sobre os riscos do uso de armas nucleares nos conflitos do Oriente
Médio e o aumento na incidência de tragédias naturais.
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